O que é? Designada síndrome de Raynaud ou doença de Raynaud, afeta especialmente os capilares dos dedos das mãos e dos pés. Esta patologia manifesta-se por vasospasmo, em resposta a situações de frio ou de stress: os capilares estreitam-se e diminui a circulação de sangue ou oxigénio nestas zonas. Como consequência, os dedos, ou outras zonas afetadas, ficam brancos e podem evoluir, depois, para uma tonalidade azulada. Estes episódios são reversíveis, demorando, em média, cerca de 15 minutos até que os vasos sanguíneos voltem a dilatar e a circulação de sangue seja restabelecida. É possível distinguir entre dois tipos de síndrome de Raynaud consoante se identifique a existência ou não de uma doença, condição ou estilo de vida que provoque a síndrome de Raynaud.   Raynaud primária A maioria destes casos são diagnosticados na infância ou adolescência e os episódios não têm gravidade, uma vez que não provocam lesões nem nos capilares, nem na pele da zona afetada. Quando o doente tem hipertensão arterial, aterosclerose, doença cardiovascular ou diabetes, os episódios de vasospasmo podem ser agravados.   Raynaud secundária É mais rara e a maioria dos casos são diagnosticados depois dos 30 anos. Está ligada a doenças autoimunes ou vasculares oclusivas. A Raynaud secundária caracteriza-se por episódios de vasospasmo de maior intensidade, dolorosos e capazes de provocar lesões isquémicas, isto é, problemas decorrentes da privação de sangue e oxigénio naquela zona (úlceras na pele e gangrena, podendo resultar, em casos extremos, na amputação digital).   Sintomas da síndrome de Raynaud Os episódios de vasospasmo são desencadeados por situações de frio ou de stress. A resposta natural do corpo ao frio é de uma maior vasoconstrição como estratégia de conservação do calor no organismo. Porém, durante um episódio de vasospasmo, a vasoconstrição nos dedos dos pés, das mãos e, por vezes, no nariz, orelhas, lábios e língua é extrema, provocando: Alteração da cor da pele: conforme a circulação de sangue é interrompida e retomada, a zona afetada pode passar pela cor branca, azul e rosada. Algumas pessoas passam apenas por um ou dois destes estágios e não pelos três. Pele fria e dormente: quando determinada zona do corpo não recebe sangue ou oxigénio em quantidade ideal, torna-se fria e com pouca sensibilidade. Algumas pessoas descrevem esta situação dizendo que esta zona do corpo “adormeceu”. Formigueiro: ao ser retomada a circulação de sangue e o fornecimento de oxigénio, sentem-se umas picadas na pele, uma espécie de formigueiro. Úlceras na pele ou gangrena: nos casos mais graves (associados ao Raynaud secundário), podem acontecer episódios longos e graves, provavelmente dolorosos. Podem produzir-se lesões na pele, úlceras e até a morte de alguns tecidos, causando gangrena.   Causas A síndrome de Raynaud primária não está ligada a nenhuma causa definida. O número de casos mostra que afeta maioritariamente mulheres e pessoas com história familiar de síndrome de Raynaud. Esta doença é também mais comum em pessoas que vivem em climas frios. A síndrome de Raynaud secundária, está ligada a doenças, condições ou ao estilo de vida do doente. Alguns dos fatores são: Doenças autoimunes (artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistémico, síndrome de overlap, polimiosite, dermatomiosite, síndrome de Sjögren, doença indiferenciada do tecido conjuntivo e vasculites, síndrome de CREST, doença mista do tecido conjuntivo). Doenças vasculares oclusivas (arteriosclerose, ateroembolia, tromboangeíte obliterante). Outras doenças como policitemia, paraproteinemia e crioglobulinemia, síndrome do canal cárpico. Uso de determinados medicamentos ou drogas (beta bloqueadores, bleomicina, cisplatina, ciclosporina, nicotina, vinblastina, anfetaminas, cocaína). Vibrações como, por exemplo, aquelas provocadas pelo uso de martelos pneumáticos. Trauma vascular ou queimaduras pelo frio.   Em ambos os casos, os episódios de vasospasmo podem ser desencadeados por: Exposição ao tempo frio ou a ar-condicionado forte. Contacto com o interior de um congelador ou com objetos frios ou gelados. Ansiedade e stress.   Diagnóstico Além dos efeitos relatados durante os episódios de vasospasmo e do historial do doente, são precisos alguns exames para confirmar o diagnóstico de síndrome de Raynaud e para distinguir entre Raynaud primária ou secundária. Os exames mais usados no diagnóstico são: Capilaroscopia periungueal: determinante para o diagnóstico e para distinguir entre os dois tipos de síndrome de Raynaud. É uma técnica de imagem, não invasiva, que observa a microcirculação e os padrões microvasculares. Análises ao sangue: para detetar a presença de doenças autoimunes, doenças inflamatórias ou outras (através da contagem dos anticorpos anti-nucleares (ANA), marcadores inflamatórios (VS - e PCR).   Se houver a suspeita de que pode haver um vaso sanguíneo bloqueado, poderá ser necessária ultrassonografia Doppler, depois do doente ser sujeito ao frio.   Tratamento da síndrome de Raynaud Em relação à Raynaud primária, o tratamento passa primeiramente por identificar as situações desencadeadoras dos episódios e evitá-las. No caso da Raynaud secundária, esta é também uma estratégia fundamental, ajudando a diminuir a severidade dos surtos. Algumas estratégias são essenciais como: Uso de luvas e meias quentes. Evitar as mudanças abruptas de temperatura. Deixar de fumar (o que estreita os vasos sanguíneos) e evitar medicamentos como descongestionantes nasais, anfetaminas ou ergotamina.   No entanto, para melhorar a qualidade de vida de alguns doentes dos dois tipos de Raynaud podem ser necessários medicamentos, como: Bloqueadores dos canais de cálcio. Antagonistas da serotonina. Prostaglandinas (nos casos severos). Pomadas de nitroglicerina para tratar as lesões da pele.   Quando nenhum dos tratamentos anteriores tem efeitos, pode ser sugerida a simpatectomia, uma cirurgia que bloqueia algumas ligações nervosas junto aos capilares mais afetados. Como consequência, o sistema nervoso não emite estímulos para que os capilares se contraiam ainda mais. Esta cirurgia pode não ser definitiva, mas minorar os sintomas durante, pelo menos, um a dois anos. De notar que, para o alívio da síndrome de Raynaud secundária, contribui o tratamento da condição ou doença a que está ligada.   Prevenção Não é possível prevenir a síndrome de Raynaud, mas é possível perceber quais as situações desencadeadoras dos episódios de vasospasmo e evitá-las. Este é, aliás, o primeiro tratamento indicado para os doentes de Raynaud primário.
Fontes:
Cleveland Clinic, março de 2023 Manual MSD, março de 2023 Mayo Clinic, março de 2023 NHS, março de 2023 Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, março de 2023